Por: Alessandra Chemello – Pós-graduanda do Doutorado Profissional em Administração da FGV EAESP e executiva do setor de educação há mais de 20 anos.
O setor educacional brasileiro possui um potencial imenso, sendo um pilar fundamental para o desenvolvimento do país. Além de sua importância para a sociedade, esse setor está se tornando cada vez mais relevante para a economia e a geração de riqueza. Contudo, há uma preocupação crescente de que a adoção de práticas de gestão profissional nas escolas possa comprometer a qualidade do ensino em prol de ganhos financeiros. Essa perspectiva pode ser prejudicial, especialmente para as escolas privadas, que se veem pressionadas pela competitividade imposta com a chegada de grandes players que implementam estratégias robustas de mercado e de gestão.
É essencial que os gestores profissionais compreendam o setor em que atuam e respeitem suas particularidades. Caso contrário, mesmo que consigam resultados financeiros positivos, não alcançarão uma performance educacional de excelência, ou seja, estarão comprometendo do core do negócio. O ensino privado representa 6,5% do PIB brasileiro e absorve cerca de 34% dos empregos formais, com aproximadamente dois terços desse total concentrados na Educação Básica. Esse segmento tem atraído a atenção de investidores, tanto nacionais como internacionais. Recentemente anúncios de aquisições e parcerias movimentaram o mercado, foi o caso do Colégio Móbile que anunciou sua entrada no grupo Nord Anglia, o qual passou a ser controlador da operação, da parceria entre a ARCO Educação, forte player no segmento de soluções educacionais para escolas, e o grupo Dom Bosco que anunciaram a chegada da escola Ways, ambos com sede em São Paulo.
Atualmente, há 47,3 milhões de alunos matriculados na educação básica no Brasil, dos quais apenas 16% frequentam escolas particulares. Em contraste, no Ensino Superior, a participação da iniciativa privada chega a 80%. Além disso, o ciclo de vida do aluno nas escolas pode se estender até doze anos, englobando os níveis fundamental e médio – um período incomum em outros setores. Esse ciclo longo é facilitado por altas taxas de retenção, uma vez que a escolha da escola é geralmente feita com uma perspectiva de longo prazo, haja visto às relações e vínculos que se estabelecem entre a família e os membros da comunidade escolar.
Para aproveitar essas oportunidades, é fundamental que as escolas implementem estratégias e boas práticas administrativas. Investir no aprimoramento da gestão é crucial. No entanto, o perfil predominantemente docente dos gestores das escolas brasileiras representa um desafio significativo. Dados do último Censo da Educação mostram que mais de 81% dos gestores vêm de programas de licenciatura. Embora isso garanta uma sólida base pedagógica, também cria lacunas na implementação de estratégias e práticas de gestão organizacional.
Além disso, os desafios que os alunos enfrentarão em suas futuras carreiras exigem modelos de ensino atualizados, que integrem alta qualidade pedagógica, individualização, bilinguismo e desenvolvimento de competências socioemocionais. O gestor educacional precisa equilibrar esses diferenciais pedagógicos com a sustentabilidade financeira da instituição e garantir que o ensino de qualidade seja acessível ao maior número possível de alunos.
Para isso, as instituições de ensino devem superar a inércia e promover mudanças organizacionais e de gestão profundas. Em qualquer segmento, as organizações enfrentam desafios complexos. Embora as organizações tendam a manter o status quo, ambientes de pressão forçam a adaptação. Esse é o contexto atual do Ensino Básico privado no Brasil.
Texto originalmente publicado no blog Gestão e Negócios do Estadão, uma parceria entre a FGV EAESP e o Estadão, reproduzido na íntegra com autorização.
Os artigos publicados na coluna Blog Gestão e Negócios refletem exclusivamente a opinião de seus autores, não representando, necessariamente, a visão da Fundação Getulio Vargas ou do jornal Estadão.