A jornada empreendedora feminina é influenciada por fatores diversos, incluindo educação, ambiente social e experiências pessoais. No entanto, um aspecto frequentemente negligenciado é o papel da família, especificamente a influência das figuras materna e paterna, na formação da identidade e motivação empreendedora. Um estudo recente conduzido por Gilberto Sarfati, da FGV EAESP, e pela pesquisadora Constanze Ulreich, publicado na International Journal of Gender and Entrepreneurship, investiga como diferentes formas de influência parental moldam as trajetórias de mulheres empreendedoras.
Utilizando uma abordagem de análise narrativa, os pesquisadores entrevistaram 22 empreendedoras de Alemanha, Suíça, Canadá e Brasil, explorando como suas histórias de vida refletem o impacto da dinâmica familiar na identidade empreendedora. Assim, as entrevistas foram analisadas a partir de perguntas como “Como você descreveria seus pais?” e “Quais experiências da infância moldaram sua jornada empreendedora?”. O estudo revelou sete temas principais, demonstrando a complexidade das influências parentais no empreendedorismo feminino.
A pesquisa destacou a interação entre apoio emocional materno e influência estratégica paterna na construção da identidade empreendedora.
Entre os temas identificados, destacam-se:
- Sonho da Mamãe: Aspirações maternas não realizadas frequentemente impulsionam as filhas a buscar sucesso no empreendedorismo.
- Ausência: A falta tanto física quanto psicológica de um dos pais pode fortalecer a independência e resiliência das empreendedoras, pois tiveram que enfrentam desafios difíceis sozinhas desde cedo.
- Nunca Suficiente: A necessidade de validação paterna pode ser um forte motor para o sucesso, reforçando a constante necessidade de se provar.
- Igualdade Primeiro: Mulheres que cresceram em ambientes de equidade de gênero se mostraram mais confiantes e resilientes.
- Superprotegida: Filhas superprotegidas podem desenvolver uma forte necessidade de autonomia e tomada de risco.
- Modelo de Papel Atípico: Mães que desafiaram papéis tradicionais ajudaram a formar empreendedoras resilientes.
- A Rocha: Experiências traumáticas na infância podem preparar as empreendedoras para enfrentar incertezas no mercado.
Portanto, os resultados indicam que a dinâmica familiar desempenha um papel essencial na formação da identidade empreendedora feminina. A relação entre pais e filhas empreendedoras apresenta dinâmicas específicas que influenciam a identidade empreendedora feminina. Os pais, tradicionalmente vistos como provedores financeiros e tomadores de decisão, tendem a incutir nas filhas uma postura mais assertiva e voltada à tomada de riscos, essencial no empreendedorismo.
Já as mães desempenham um papel crucial no apoio emocional e no desenvolvimento de habilidades interpessoais, fundamentais para a resiliência e o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Portanto, essa interação entre figuras paternas e maternas molda a trajetória das empreendedoras, combinando estratégia, ambição e suporte emocional.
Além disso, relações parentais que promovem igualdade de gênero acabam fomentando a confiança e a resiliência em filhas. Portanto, os pais que tratam suas filhas com igualdade incentivam o empreendedorismo nelas.
É preciso levar em consideração a dinâmica familiar para fomentar mentorias de empreendedorismo.
Para ampliar o apoio a essas mulheres, programas de mentoria podem suprir lacunas emocionais e estratégicas deixadas pela influência parental. Além disso, políticas educacionais voltadas ao empreendedorismo devem considerar a interação entre fatores emocionais e estratégicos na construção da resiliência e motivação feminina.
Por fim, o estudo contribui para uma compreensão mais profunda sobre o empreendedorismo de gênero. Também destaca a necessidade de apoiar futuras empreendedoras desde suas experiências familiares, promovendo um ecossistema mais inclusivo e equitativo.
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