A saúde mental infantil está intrinsecamente ligada ao ambiente em que a criança cresce. Eventos de estresse familiar, como o desemprego dos pais, podem gerar impactos duradouros a saúde mental e o bem-estar psicológico das crianças, comprometendo seu desenvolvimento. No Brasil, o estudo Economic Distress and Children’s Mental Health: Evidence from the Brazilian High-Risk Cohort Study for Mental Conditions examinou como choques econômicos adversos, como a perda de emprego pelos pais, afetam a saúde mental infantil, revelando evidências inéditas sobre esse fenômeno.
O estudo é dos pesquisadores Rudi Rocha (FGV EAESP), Luiz Felipe Fontes, Michael Mrejen e Beatriz Rache, e encontra-se na revista The Economic Journal. A análise baseia-se nos dados coletados pelo Estudo da Coorte Brasileira de Alto Risco para Transtornos Psiquiátricos (BHRCS). A pesquisa acompanhou mais de 2 mil crianças de São Paulo e Porto Alegre ao longo de dez anos. Utilizando um método econométrico para inferência causal, os pesquisadores investigaram os efeitos da perda de emprego parental na saúde mental infantil, mensurada a partir de diagnósticos clínicos validados pela academia.
Como o desemprego pode afetar a saúde mental dos filhos
Os resultados mostram que a perda de emprego dos pais aumenta em 6 pontos percentuais a probabilidade de crianças serem diagnosticadas com transtornos mentais, como ansiedade e transtornos de conduta. Além disso, crianças de famílias com histórico de problemas de saúde mental enfrentam impactos mais severos, refletindo a dificuldade de lidar com adversidades econômicas.
Outro achado importante é que a perda de emprego dos pais afeta a saúde mental das crianças por até cinco anos após o choque. Portanto, os pesquisadores destacam a necessidade de intervenções políticas imediatas para mitigar os danos.
A perda de emprego não é apenas um evento econômico, mas também um catalisador de sofrimento psicológico familiar, que repercute diretamente na saúde mental infantil. Embora a perda de emprego possa aumentar o tempo dos pais com os filhos, o impacto depende da qualidade desse tempo e do nível de estresse no lar. Os resultados do estudo reforçam a importância de políticas públicas que apoiem famílias em situação de desemprego. É preciso oferecer recursos financeiros e psicológicos para minimizar os efeitos adversos nas crianças.
Por fim, este estudo contribui significativamente para o entendimento dos impactos de choques econômicos em populações vulneráveis. Também destaca a necessidade de ações integradas para proteger o bem-estar das crianças em períodos de crise.
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