Mais do que uma palavra bonita e impactante, o conceito de sustentabilidade se mostrou necessário para muitas empresas que enfrentaram os desafios impostos pela pandemia de Covid-19. Analisando 13 empresas que fazem parte das Iniciativas Empresariais do Centro de Estudos em Sustentabilidade (FGVces) da FGV EAESP que lidaram com a crise da Covid-19 em seu momento inicial, a pesquisa publicada na Revista de Administração de Empresas (RAE) mostra que as equipes de sustentabilidade e áreas correlatas ganharam um maior escopo de atuação ao longo do primeiro semestre de 2020, quando foram convidadas a apoiar na realização das transformações internas que foram necessárias dentro das corporações para enfrentar os inúmeros desafios trazidos pela pandemia.
Quando a sustentabilidade se apresentava em uma tônica mais forte, ela se tornou um canal que permitiu às empresas aproximarem seus negócios de questões sociais e ambientais, o que pode ser percebido no estabelecimento de objetivos e limites mais claros para as suas atividades econômicas. Nos casos onde a tônica da sustentabilidade era mais branda, o setor de sustentabilidade foi acionado para fornecer informações que pudessem ajudar na gestão dos riscos que estavam ameaçando o cotidiano de negócios das companhias.
A pesquisa destaca que esse movimento permite uma maior resiliência das corporações, o que poderá implicar na criação de relações mais próximas e constantes das empresas com os atores externos às companhias, que estão direta ou indiretamente relacionados com os negócios das empresas. No entanto, também pondera-se que a resiliência das companhias não pode se restringir à aplicação da gestão para a sustentabilidade apenas – mais do que manter a participação e colaboração contínua com atores internos e internos, é preciso que os temas socioambientais sejam trabalhados de forma transversal às áreas de negócio.
Nesse sentido, a pesquisa propõe uma reflexão crítica sobre o papel da sustentabilidade na gestão e atuação das empresas. Segundo as autoras, as forças de transformação e de manutenção dentro das companhias coexistem e disputam narrativas e espaço dentro das organizações, que tem percebido que é crucial se voltar para seus propósitos primordiais. Nesse sentido, as autoras perceberam indícios de realinhamento do propósito fundamental de atender às necessidades da sociedade e promover o bem-estar. Há também um alerta sobre o risco de seguir apostando no mercado – seja pela fé na tecnologia, na inovação ou nos instrumentos financeiros – como fonte de soluções.
A conclusão das autoras é de que os esforços de comunicação, colaboração e de reconfiguração de relações são promissoras, tanto na ótica da sustentabilidade forte quanto da resiliência, ainda que não se alinhem completamente, têm sinergias que podem fomentar o surgimento de uma nova agenda empresarial de sustentabilidade.
Confira o estudo na íntegra.